segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Hoje, mesmo que só hoje, eu poderia abraçar o mundo inteiro.
Poderia ir embora, viajar, andar pra longe e não voltar mais, ou voltar, por que não?
O fato é que poderia ir pra bem longe, beijar a vida, conhecer cada fala e cada olhar, apreciar todos os gestos e depois voltar pra quem sou.
Ou me perder por ai, possivelmente ser uma nova pessoa.
Mudar mais uma vez, o que é mais uma vez pra quem já mudou milhões?
Mas hoje, e amanhã vou ficar bem aqui, pensar em tudo que vou viver depois,
viver pouco e contidamente da forma que se deve ser.
Porque para ser vivo precisa-se de ser contido primeiro.
Mesmo que eu não queira, mesmo que precise me perder pra me sentir inteira.
Vou ficar presa toda dentro de mim, sem que nenhuma parte saia,e depois
Depois vou ser completa pelas metades, vou deixar metades por todos os lados
metades de metades, terços, quartos,
E assim vou ser todo o mundo, todo mundo e tudo mais que houver.
Vou me perder, perder muito, vou dizer tudo que vejo exatamente como quero dizer
E fazer com que enxerguem como eu, vou gravar olhares, mãos e gestos.
Eterniza-los.
E quer saber, vou escrever até que meus dedos caiam, e não ligo se não sou mestre em retórica,
concordânca, se me esqueço de regras de gênero, número e grau.
Vou ser, escrever, fotografar.
Pra sempre, até o último fôlego, viver de dizer, como eu sempre quis.
Mas hoje? Hoje vou voltar pro meu mundo e firmar meus pés nos chãos
deixar que só o pensamento divague. Vou andar pelas ruas com sapatos que cansam meus pés,
me sentar em uma cadeira de frente a um computador e ouvir tudo o que têm a me dizer pelos malditos fones de ouvido.
Amanhã também será assim, mas e depois?
Eu sou covarde, mas não uma covarde qualquer. Uma covarde acima de qualquer limite de covardia. Tão covarde, mas tão covarde que não consigo encarar as coisas como elas são. Tudo parece doer quando analisado de perto, tudo faz sofrer se for realmente observado. E sabe qual o problema? eu não sei olhar pela metade, ou vejo tudo, ou não vejo nada. E como ver dói tanto, procuro fulgas, modos de ficar mais cega, de ver menos, sentir menos, drogas pra me causar apatia, ou um pouco de felicidade, que seja. As relações parecem tão superficiais, e as pessoas são descartáveis, substituíveis. Inclusive eu. Viver em ecstasy as vezes cansa, mas lucidez me faz um mal maior que cansaço. Falar sobre os outros é simples, analisar e entender todo mundo, todo o mundo, é tão banal. Agora dizer o que vejo, como vejo, o que sinto, como e tentar explicar os motivos desse turbilhão de coisas é impossível, meu sonho impalpável, assim como todos os outros que tive um dia. Não sou uma covarde qualquer, sou A covarde