quinta-feira, 30 de abril de 2009

Por quantos caminhos terei de passar até descobrir a que vim?

Mergulho em mim e nada encontro, adentro no canto profundo da minh’alma
Me perco nas valas do meu vazio
Vazio com curvas e becos que não dão em lugar algum

Há dentro de mim mais pessoas que posso contar

Santa imunda
Puta imaculada

Se haviam empecilhos, hoje, não há mais nada
Apenas o grito mudo, a respiração ofegante, os olhos marejados
E mão nervosa que tenta frustradamente encontrar a palavra
Que traduza essa agonia.

A dor que não é dita
Prolixidade daquilo que é omitido
Frieza do omissor
A dificuldade de tocar alguém e de se deixar tocar assusta
Mas a falta de amor próprio assusta ainda mais.

Santa imunda
Puta imaculada
Sou.
Dessas intensas sensações que me perseguem
Começo a sentir nojo
O que antes me dava imenso prazer hoje me cansa
E já não sinto vontade de praticar nada.
Como tudo que me apetecesse fazer já houvesse sido feito repetidas vezes
E viver se tornasse uma teoria vaga e superficial
Qual o fim de acumular experiências, emoções senão o fim (no sentido real da palavra)
Nada surpreende e empolga a alma fadigada e preguiçosa
Que despreza possíveis emoções
Joga fora o impreciso
E vive só de ar.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Alice

Os olhos grandes e redondos de quem está constantemente espantado,
As mãos de formas quase encantadoras, levemente calejadas,
Os cabelos tingidos com tinta barata lutavam para esconder a idade expressa nos olhos.

Fé cega sustentada pela Santa Ignorância e,
Um abismo foi criado pouco a pouco afim de separá-la desse mundo.
E lá está Alice, em sua realidade
na mais particular das versões reais da vida.

Do outro lado, eu.

No mundo de Alice os milagres acontecem e os problemas tem fáceis soluções.
Alice morreu para o mundo e nasceu para o homem
que carregava a verdade debaixo do braço, bem no sovaco.

Alice sentou-se na beira do abismo
cavado pelos missionários da Palavra
Cantou num desafinado clamor à piedade de Deus
Comeu do pão que cura e bebeu do sangue que liberta,
o pão que o Homem amassou, o sangue que o Homem derramou
Ficou cega, então o Senhor respondeu
Alice ainda ouvia e dava graças por isso
Gritou pelo Criador
Ele a chamou
-Vem Alice...

Alice mergulhou no abismo

E eu disse:
-Adeus Mãe!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Soluções baratas me são um tanto quanto sedutoras. A morte me parece melhor que todas, a mais fácil, rápida e certa. Afinal entre morrer e comprar um cachorro a primeira opção é poupar esforços com a segunda, já que eu vou acabar morrendo e o cachorro também.Mas tentar morrer e não conseguir é pior que continuar vivendo pois é muito infeliz tentar tirar a própria vida e nem isso conseguir. Não creio que seja privar-se das emoções e das surpresas da vida, é apenas tomar tudo num gole. O cheiro da morte e o gosto dela são extremamente agradáveis.Não ter que conviver com gente, gente me cansa, me deixa preguiçosa e seriamente magoada. Gente me aponta e fala de mim, eu também falo da gente, porque gente é uma merda.Relacionar-me com pessoas foi sempre um grande problema, em dado momento dos relacionamentos acabo expulsando a gente toda. Sequer consigo manter firmes os laços que supostamente se desenvolveram das convivências, a gente começa a ficar chata, mandar em mim, querer saber e pronto, já me irritei. Nem sei mais se gosto de pouca gente, estou começando achar que não gosto é de gente nenhuma.Cuidado com o julgamento, pois não me agrada a idéia de matar os outros, de forma alguma sou assassina, mas morrer sozinha é um convite tentador, um acidente seria delicioso, andar despreocupada pela rua e de repente um carro passar em cima de mim, vou morrer num susto e nem vai doer. Ou quem sabe uma bala perdida, na fila do banco pagando as dívidas e um ladrão dá tiros e um me acerta. O problema é: se eu não morrer e ficar sequelada? Vou acabar dependendo dessa gente toda.O suícidio é bonito, privar as pessoas das mágoas que causarei e que elas causarão a mim, priva-las dos diálogos exaustivos e privar a minha mente cansada, talvez a única forma que um ser tão emotivo tenha de externar o amor pelo próximo, por toda essa gente. Mas se falhar, se não tomar pílulas suficientes, se amarelar na hora de atirar na cabeça, ou pular de um lugar não tão alto, não vai valer a humilhação da gente cuidando de mim, me aconselhando e declarando o amor divino na minha vida.Morrer ou não morrer, eis a questão.Deveria ter sido essa a frase de Shakespeare, ou melhor, morrer agora ou esperar conquistar muitas coisas e morrer? Todas as certezas cultivadas em vida são vãs, com exessão da morte, por isso a pobrezinha é endiabrada, enfeiada, as pessoas tem medo do que sabem que vai acontecer, mas eu não sou assim, gosto de saber, de ter uma certeza!Vai que Jesus desce e não me deixa morrer?! Quero gritar bem alto ME DEIXE MORRER, porque viver me cansa, me deixa fadigada. Abrir a boca e ver olhos espantados ao redor vai cansando, só é bom no começo, logo cansa, e cansa muito.Sentir que estou ultrapassando os limites já não é suficiente, acho que ultrapassei tudo que me limitava, a única coisa que me prende mesmo é viver. Fui largando aqueles conceitos defasados, jogando fora a historinha da moral, esquecendo o que era ética, fazendo o que me apetecia e usando o gerundio exaustivamente. De repente não consigo mais ver as linhas, as barreiras, o que resta a uma pessoa nesse estágio? A morte, oras, o limite máximo da vida, o único que se for ultrapassado uma vez não se pode voltar, ou pode?Quero ser uma formiga na próxima vida.