quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Por enquanto posso concluir o que sempre suspeitei: há sempre outra maneira de enlouquecer, sobreviver e de ser feliz.
E por mais estranho que pareça dizer isso, não há nada mais estimulante que percorrer novos caminhos.

Re-imagining - Kenzo

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Deixar pra trás, virar a página são expressões insuficientes. O que acontece agora é o fechar de um livro eleito como o preferido, daqueles que não cansamos de reler, sabem?
Fechar meus livros favoritos sempre foi difícil. Se batia o sono, logo me sentava para ficar mais tempo me deliciando com as histórias maravilhosas, e virava madrugadas mergulhada em universos que não eram de todo meus. Quando acabavam as páginas, chegava o fim da história, no último ponto final, sempre um suspiro e a vontade de ler novamente.
Acabaram as páginas, argumentos, e criatividade para escrever, criar novas situações. Um livro rotineiro não pode te deixar insone, certo? Os personagens se tornaram covardes, desinteressantes e desconexos(?). O medo, insegurança, e a pouca experiência dos autores reduziram todas as belas páginas a um fim sem criatividade, indecente, mixuruca. E o que deveria ser um livro sobre amor, transformou-se numa fábula sem moral alguma.



domingo, 9 de outubro de 2011

Naquela mesa




Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho
Eu fiquei seu fã
Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída, não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim
Naquela mesa ta faltando ele
E a saudade dele ta doendo em mim
Naquela mesa ta faltando ele
E a saudade dele ta doendo em mim.

Nelson Gonçalves dilacerando corações saudosos.

domingo, 2 de outubro de 2011

É valido não ter certeza a respeito das coisas que virão, desesperador é passar por cada dia sem certeza alguma. Viver com pouco prazer, medo e insegurança. Tantas coisas terríveis que não sei dizer como parei no meio de tudo, e é claro que no fim das contas estou só. Todo mundo está.
A gente se descobre, talvez eu até saiba quem sou agora, mesmo. Existe um lugar aonde quero chegar, só não sei o caminho e nem o que levar e o que deixar pra trás.


Fotografia Henri Cartier Bresson

sábado, 6 de agosto de 2011

Há sempre um pouco de razão na loucura. Enlouquecer é perder-se intencionalmente. Cortar um pouco mais fundo.
E há sempre novas formas de perder-se, diferentes oceanos nos quais podemos nos jogar, outras formas de enlouquecer.
Por enquanto bebo além da conta, fumo demais, faço das minhas tristezas e dramas verdadeiras epopeias, penso em sexo, desorganizo o guarda-roupas, quebro alguns pratos, invento verdades e escrevo bobagens.

sábado, 23 de julho de 2011

701

Todos os dias, ao acordar, se lavava, vestia-se com roupas mal passadas, arrumava os cabelos, e pintava a cara.
Todos os dias, escondia as olheiras, erupções de pele causadas pelo mal funcionamento do fígado, marcas de sol. Pintava os olhos, realçava os cílios, marcava a boca. Ainda não estava pronta.
Calçava-se, ainda não estava pronta.
Todos os dias, caminhava até o trabalho sem perceber os detalhes do trajeto, fumando um cigarro, cabeça erguida, mas não olhava para a frente. A caminhada era seu momento favorito, como se as velhas ruas do centro da cidade fossem levá-la a um novo lugar.
Pensava em como era cômico, e trágico, perder tudo que tem. Ficar sem dinheiro, perder pessoas queridas que ainda vivem, perder-se de si próprio, perder a paz. Se é que algum dia houve paz. Valorizava muito um sofá aconchegante e uma cama macia, apesar de não dormir muito, existe a paz no escuro de um quarto e conforto de uma cama.
Chegava num trabalho que não era nem de perto seu sonho, continuava lá porque se esqueceu do que queria. Sabia que no fundo ainda tinha algum brilho e até certa simpatia, se esforçava para doar esse resto de vida a eles. Sorria com os lábios pintados: Bom dia!
Todos os dias Ana falava com o amor, mas mesmo o amor pode não ser suficiente para nos manter vivos.
Todos os dias Ana pensava nas mesmas coisas, mas as respostas mudavam, e então ela ficava no mesmo lugar.
Parecia ser um novo dia! Sétimo andar, apartamento 701, uma nova perspectiva? Matou-se.

domingo, 3 de julho de 2011

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Um muito de solidão não faz mal a ninguém?

domingo, 26 de junho de 2011

Meu peito carregado de saudade.
Quando o sono não chegar

terça-feira, 21 de junho de 2011

Vinte e

Vinte e poucos anos, quantos são os poucos? Os meus nem são, na verdade, o meu é 1. Vinte e um anos.
Parece um século. Tenho impressão de ter vivido demais, e uma leve frustração ao lembrar como pensei que seria minha vida aos vinte um. Vinte e um: um carro, um apartamento, um emprego legal. Vinte e um: casa dos pais, transporte coletivo, um emprego ruim.
Se estou triste? Não.
Vinte e um anos e muita história pra contar, e ainda mais histórias pra viver.
Posso dizer que como o destino, ou seja lá quem for que faz isso, se encarregou de escrever esses meus vinte e um anos me fez adulta bem cedo, comecei trabalhar primeiro que todos os meus amigos, e de certa forma, sempre “escolhi” o que queria fazer.
Tá que essas escolhas acarretaram uma lista quilométrica de merdas espalhadas por aí. Mas não tenho mais vergonha de nenhuma delas, foi quebrando a cara quase diariamente que me tornei essa mulher maravilhosa.
Mais um ano e chego a conclusão que preciso mudar de ares, um pouco mais de sossego em casa, de ser menos altruísta, de encontrar um novo emprego, mesmo que signifique menos grana porque quero experiência.
Um ano a mais e chego a conclusão que preciso de menos hedonismo também, encontrar equilíbrio no meio dessa bagunça que me meti sem querer..
Vinte e um anos, e na frente do espelho ainda encaro os não tão velhos olhinhos acuados, medrosos, mas vejo também uma mulher forte, segura de si. Vinte e um anos e pouco medo de deixar que o mundo enxergue quem sou.
Vinte e um anos, vinte e um anos, vinte e um... Não consigo parar de repetir e de pensar em como será. No mais, estou aqui. Que venham os vinte e poucos que estão faltando, os vinte e muitos e todo o resto!




"Quando me lembro de tudo, quando me visto de nada,
e me chove e descubro,
quanto você me esperava
eu tenho o tempo do mundo, tenho o mundo afora"

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Dormir de mãos dadas


Te amar é assistir um programa de TV bobo só pra poder ter mais o que dizer, pra participar um pouco mais das coisas que te atraem. É passar a noite em claro, tentando encontrar conforto no travesseiro pra disfarçar a saudade. Brigar por pouca coisa, ser e fazer do outro seu alvo de tensão, entender e dar gritos sem motivo. É dormir de mãos dadas. roubar o edredom, chorar de saudade. Dar a cara pra bater, o mundo bater cruelmente e você bater gostoso. É gritar sem motivo, quebrar garrafas, esconder as roupas pra você não se vestir tão cedo. Te ver partir hoje, sabendo que te verei amanhã e mesmo assim doer como se fosse ficar anos longe. Sentir paz no teu silêncio, no som da respiração, sorrir em te deixar sem fôlego. Preparar almoço na cama, deixar de comer, viver de amor. Isso! Te amar é viver de amor, por amor e cada dia um pouco mais. Te amar também é deixar de viver um monte de coisas que se parar pra pensar bem, nem vão fazer falta.
Te amar foi o que escolhi sem querer, e o que quero continuar fazendo.

Feliz dia <3 e obrigada, eu não saberia ser mais feliz que sou.

"Ali sinto tua alma a flutuar do corpo
Teus olhos se movendo, sem se abrir"
Ali, tão certo e justo e só ti sendo
Absinto-me de ti, mas sempre vivo
Meus olhos te movendo sem te abrir"

sexta-feira, 20 de maio de 2011


Hoje acho que descobri que a força do homem não tem limites, aliás, tem sim, mas são maiores do que o esperado. Que bom, palmas!
Mas eu posso desmoronar, descer do salto, gritar, chorar muito só as vezes? Só quando não conseguir mais aguentar. Aonde se esconde a força que as vezes pareço ter tanto, e outras nada? Será que quanto mais forte tentamos ser mais a vida fica difícil? Será que superação nos faz mesmo seres elevados, ou com um disfarce mais convicente?
Acho que no fim das contas, todos somos fracos. Alguns mais, outros menos, ainda não descobri o meu limite mas parece faltar pouco.

É isso, só quero saber: qual o limite do medo?


http://www.youtube.com/watch?v=IETfCzwSU6k&feature=related

domingo, 15 de maio de 2011

Novos Universos


"Nesta prontidão sem fim
Vou fingindo que sou rico
Pra ninguém zombar de mim"

Noel Rosa - Filosofia












http://www.youtube.com/watch?v=-VR0mmuacW4&feature=player_embedded

A música do Noel Rosa, interpretada por Paulinho da Viola. Pra tomar coragem! :D

sábado, 14 de maio de 2011



"Gritamos que queremos moldar um futuro melhor, mas não é verdade. O futuro nada mais é do que um vazio indiferente que não interessa a ninguém, mas o passado é cheio de vida e seu rosto irrita, revolta, fere, ponto de queremos destruí-lo ou pintá-lo de novo. Só queremos ser mestres do futuro para podermos mudar o passado."
Milan Kundera - O livro do Riso e do esquecimento.



Fotografia: Erwin Blumenfeld

sexta-feira, 13 de maio de 2011

E aí, como é ser gay?


Dia desses estava almoçando com uma colega de trabalho, e ela me disse: Mas e aí Ana, como é ser gay?
Pô, eu nem sabia que era gay! Juro que poucas vezes na vida assimilei o fato de namorar uma mulher me fazer mais uma homossexual. Sempre encarei com naturalidade ficar com quem me fizesse feliz, não me agradavam os termos lésbica, bi, hétero, cheguei a achar que deveriam criar o termo "atermados".
Então, eu não tive resposta pra ela no dia, só falei que nunca tinha me visto como gay. E realmente, eu sou do tipo sem senso algum, estou no shopping de mãos dadas, saio pra comer e faço coisas ridículas tipo dar comida na boquinha (SIM GENTE EU FAÇO ISSO), conto (pseudo)intimidades pras colegas de faculdade pelo simples fato de não compreender de onde saíram os rótulos.
Não faz sentido só falar de relacionamentos com pessoas da mesma sexualidade, até porque ninguém fica 24 hr se auto afirmando "Sou gay, sou gay, sou muito gay" ou "Sou hétero, sou hétero, hétero demais da conta". Isso faz parte de quem somos, e é como a cor dos olhos, nos esquecemos que cor tem nossos olhos porque não pensamos nisso.
Me lembro no começo como era esquisito pensar que de repente, tudo mudou e eu estava namorando com uma mulher, não era mais um rolinho ou "nhemnhemnhem", era sério e de verdade, e "POHÃ" sempre namorei com meninos e agora era uma mulher, e "POHÃ" sempre namorei com meninos e agora? E agora era uma fase linda, cheia de flores no caminho e um monte de gente pra espinhar. e agora? Agora eram mil olhos de reprovação, cabeças baixas e mães arrastando seus filhos de perto de nós. Agora eram amigos que nos deixavam de lado, que se envergonhavam e indicavam terapia. Agora era tempo de eleger o que era prioridade na minha vida, hora de ser mais mulher que tinha sido até então. pra me orgulhar de ser quem sou.
Na verdade, agora é o tempo mais feliz e bem resolvido que tive na vida.
E no final de tanta enrolação, depois de algumas cervejinhas solitárias, alguém sabe me dizer como é ser gay?

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sejamos gays. Juntos.



Essa é uma campanha que vou aderir, e deixo aqui para que meus, poucos, leitores fiquem cientes, e quem sabe participem.

Sejamos gays. Juntos.
Espalhe essa ideia.


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Adriele Camacho de Almeida, 16 anos, foi encontrada morta na pequena cidade de Itarumã, Goiás, no último dia 6. O fazendeiro Cláudio Roberto de Assis, 36 anos, e seus dois filhos, um de 17 e outro de 13 anos, estão detidos e são acusados do assassinato. Segundo o delegado, o crime é de homofobia. Adriele era namorada da filha do fazendeiro que nunca admitiu o relacionamento das duas. E ainda que essa suspeita não se prove verdade, é preciso dizer algo.
Eu conhecia Adriele Camacho de Almeida. E você conhecia também. Porque Adriele somos nós. Assim, com sua morte, morremos um pouco. A menina que aos 16 anos foi, segundo testemunhas, ameaçada de morte e assassinada por namorar uma outra menina, é aquela carta de amor que você teve vergonha de entregar, é o sorriso discreto que veio depois daquele olhar cruzado, é o telefonema que não queríamos desligar. É cada vez mais difícil acreditar, mas tudo indica que Adriele foi vítima de um crime de ódio porque, vulnerável como todos nós, estava amando.
Sem conseguir entender mais nada depois de uma semana de “Bolsonaros”, me perguntei o que era possível ser feito. O que, se Adriele e tantos outros já morreram? Sim, porque estamos falando de um país que acaba de registrar um aumento de mais de 30% em assassinatos de homossexuais, entre gays, lésbicas e travestis.
E me ocorreu que, nessa ideia de que também morremos um pouco quando os nossos se vão, todos, eu, você, pais, filhos e amigos podemos e devemos ser gays. Porque a afirmação de ser gay já deixou de ser uma questão de orientação sexual.
Ser gay é uma questão de posicionamento e atitude diante desse mundo tão miseravelmente cheio de raiva.
Ser gay é ter o seu direito negado. É ser interrompido. Quantos de nós não nos reconhecemos assim?
Quero então compartilhar essa ideia com todos.
Sejamos gays.
Independente de idade, sexo, cor, religião e, sobretudo, independente de orientação sexual, é hora de passar a seguinte mensagem pra fora da janela: #EUSOUGAY
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Para que sejamos vistos e ouvidos é simples:
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1) Basta que cada um de vocês, sozinhos ou acompanhados da família, namorado, namorada, marido, mulher, amigo, amiga, presidente, presidenta, tirem uma foto com um cartaz, folha, post-it, o que for mais conveniente, com a seguinte mensagem estampada: #EUSOUGAY
2) Enviar essa foto para o mail projetoeusougay@gmail.com
3) E só
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Todas essas imagens serão usadas em uma vídeo-montagem será divulgada pelo You Tube e, se tudo der certo, por festivais, fóruns, palestras, mesas-redondas e no monitor de várias pessoas que tomam a todos nós que amamos por seres invisíveis.
A edição desse vídeo será feita pelo Daniel Ribeiro, diretor de curtas que, além de lindos de morrer, são super premiados: Café com Leite e Eu Não Quero Voltar Sozinho.
Quanto à minha pessoa, me chamo Carol Almeida, sou jornalista e espero por um mundo melhor, sempre.
As fotos podem ser enviadas até o dia 1º de maio.
Como diria uma canção de ninar da banda Belle & Sebastian: ”Faça algo bonito enquanto você pode. Não adormeça.” Não vamos adormecer. Vamos acordar. Acordar Adriele.
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— Convido a todos os blogueiros de plantão a dar um Ctrl C + Ctrl V neste texto e saírem replicando essa iniciativa —

domingo, 1 de maio de 2011

Não me tirem o direito de ser triste


Não me tirem o direito da tristeza, de ser triste de vez em quando, ou sempre que eu precisar. Não me peçam pra conversar demais quando não estou com vontade, aliás não me peçam pra fazer nada que eu não queira.
Não me tirem o direito de um cigarro no quarto escuro, e qualquer música que me arraste ainda mais fundo. Não me digam como agir, ou que devo sorrir e ser um pouco mais simpática. Simpatia não é uma coisa que vem quando quero.
Não me tirem o direito da solidão e do silêncio. Não me tirem o direito de ficar imersa em pensamentos ridiculamente depressivos. Aliás, não me tirem direito de passar o dia todo sem lavar o rosto, abrir as janelas e pentear o cabelo. Não me tirem o direito de desligar o celular, não atender ao interfone, e ir a padaria de pijama as 11:00 da manhã. Me deixem comer quantos chocolates eu quiser, fumar quantos cigarros forem necessários, me entupir de qualquer comida com queijo derretido fora da TPM!
Ser triste nem sempre é doença, é também uma forma de sentir-se vivo, um outro ponto de vista, um pouco de razão, e talvez falta de vontade.



Ilustração Ruben Ireland

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Nan Goldin

Tenho a impressão de que a primeira vez que vemos Nan Goldin algo muda dentro de nós. Parece exagero, mas no meu caso a primeira foto que vi foi essa:


Jimmy Paulette after the parade, NYC, 1991

E lembro de ter ficado embasbacada, sem saber explicar o que achava de tão lindo. Quanto mais pesquisava sobre essa fotográfa, mais admirada ficava. Hoje encontrei umas fotografias que revelei (ops) para um trabalho na faculdade e entendi melhor o que Nan Goldin estava dizendo, e como aquelas pessoas das fotografias de alguma forma se relacionavam comigo.








Minha personagem favorita, Valerie




e a foto preferida:






Todo mundo tem um filme, um livro, uma música pra chamar de "sua" (ainda que não seja) e minha fotográfa com certeza é Nan Goldin.
Hoje sinto inveja ao ver o sono tranquilo dos meus pais.
"Nós escrevemos livros porque nossos filhos se desinteressam de nós. Nós nos dirigimos ao mundo anônimo porque nossa mulher tapa os ouvidos quando falamos com ela.
Vocês irão replicar que, no caso do chofer de táxi, trata-se de um grafomaníaco e de modo algum de um escritor. Portanto, para começar, é necessário precisar os conceitos. Uma mulher que escreve quatro cartas por dia para o seu amante não é uma grafomaníaca. É uma apaixonada. Mas meu amigo que tira fotocópias de sua corresnpodência amorosa para poder publicá-las um dia é um grafomaníaco. A grafomania não é o desejo de escrever cartas, diários íntimos, crônicas familiares, mas de escrever livros (portanto, ter um público de leitores desconhecidos). Nesse sentido, a paixão do chofer de táxi e a de Goethe são a mesma. O que distingue Goethe do chofer de táxi não é uma paixão diferente, mas o resultado diferente da paixão.
(...)
O isolamento geral engendra a grafomania, e a grafomania generalizada reforça e agrava, por sua vez, o isolamento. A invenção do prelo no passado permitiu aos homens compreenderem-se mutuamente. Na era da grafomania universal, o fato de escrever livros adquire um sentindo oposto: cada um se cerca de suas próprias palavras como de um muro de espelhos que não deixa passar nenhuma voz de fora."


Milan Kundera - O Livro do Riso e do Esquecimento.

Um amigo me indicou esse livro, e agora está entre os meus favoritos.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Lavoura Arcaica

"(...) não tenho culpa desta chaga, deste cancro, desta ferida, não tenho culpa deste espinho, não tenho culpa desta intumescência, deste inchaço, desta purulência, não tenho culpa deste osso túrgido, e nem da gosma que vaza pelos meus poros, e nem deste visgo recôndito e maldito, não tenho culpa deste sol florido, desta chama alucinada, não tenho culpa do meu delírio."

Lavoura Arcaica - Raduan Nassar

Que difícil escolher um trecho só.