quinta-feira, 18 de março de 2010

A boneca azul

Sempre gostei de escrever em lugares sem linhas, na folha branca, pura, lisa. Quando era criança ignorava os limites do caderno de caligrafia e a bobagem de letra arredondada, acho que a liberdade do pensamento tem amarras demais para se sufocar nessas banalidades. Gostava de fazer desenhos no meio das frases:um dia de (desenho de um Sol), a (desenho de menina) bonita, a (desenho de estrelas e lua) escura, desenho de cruz) é bom, estava :D. Me mandaram para a psicóloga que me pedia para desenhar, mas eu fazia uma redação.
Afinal qual a diferença entre um texto e um quadro? As vezes é mais fácil acorrentar o pensamento nas palavras, outras não. O fato é que ainda não entendo porque não desenhar em provas ou escrever em quadros, é preciso umacerta autonomia para ser livre e dizer?
Platão me odiaria, para ele mais valia um pequeno relato sobre um dia chuvoso levantando hipóteses de porque chove que um: Hoje (desenho da nuvem com gotas caindo) porque o (desenho do sol) evaparou a (desenho de um rio) e ela virou um montão de (desenho de nuvens) que viraram (desenho de gotas de água). Aristóteles, talvez, me achasse genial (eu teria dez anos). Mas minha professora achou que eu fosse louca e me mandou para a psicologa, que detectou uma capacidade associativa enorme em minha mente.
Noutro dia fui pega organizando uma reunião "secreta" dentro daquele brinquedo com tambores, sabem? Chamei todas as meninas e queria ATACAR o clube dos meninos. Eu amava a Mônica, mas não tinha um Sansão, então tirei a roupa da minha Barbie, pintei a boneca de tinta guache azul (ficou linda), e só a segurava pelos cabelos. No ápice do meu discuro infanto-feminista a Tia Gris me fraglou rodando a barbie-sansão pelos cabelos, incitando as meninas a jogarem no vaso os lápis dos meninos.
Beirando os vinte anos, continuo substituindo palavras por desenhos, aulas por discussões acalouradas e pseudo-revolucionárias, e ainda quero jogar no (desenho de vaso sanitário) as coisas dos meninos (desenho de "bibiu"), que tratarei de cortar com minhas (desenhos do edward mãos de tesoura).
Ps: escrevo sobre banalidades, memórias e outra coisas pequenas porque sou banal, desinteressante e egocentrica demais para solucionar sistemas mais complexos que o que penso e sinto.