sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Opaca

Das perguntas que não cessam, da face que não reconheço nas fotografias, dos olhos que não encaro no espelho, das mãos inquietas, pernas compridas, contradições sequenciais, matérias que me fazem mas não me completam.
Do medo da reprovação familiar, de perder os poucos laços que me restaram, da fobia social, dos pensamentos ilícitos, das atitudes supreendentes. Não me conheço, só sei o que sinto ao sentir, não é o tipo de coisa que posso prever.
A pouca graça que a vida me concede é surpreender-me a mim mesma. Se acabo com isso, prefiro a morte (aliás quase sempre prefiro a morte). Gosto de me estranhar, essa é a razão de eu não olhar em meus olhos. Não quero saber mais sobre mim.
Sou feia, um tanto maldosa, egoísta, hipócrita, despida de moral e vazia. Isso vejo, e basta! Resta um mar de coisas inexploradas em quem sou por mim mesma.
Não me testo mais.
Posso conhecer meu sexo, mas não meu gosto. Desvelar meu passado e, não ver meus pensamentos. Delinear meu corpo, e só imaginar minhas costas.
Ser transparente não me interessa!

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Viver não é o tipo de atividade que me atrai.
Simplesmente não faz sentido algum levantar com o sol e me ocupar com uma série de coisas se não tenho planos para o futuro. A morte me parece algo extremamente tentador, sorte de poucos.
Morrer deve ser delicioso, um sono sem sonhos. Sentir aos poucos os fios de vida saindo do corpo, como cabelos que desbotam lentamente quando se envelhece, as vistas que ficam escuras como quando se está entorpecido, e o ar que se torna escasso gradativamente como meu fôlego de fumante.
Se eu pudesse, viveria todos os momentos de uma vez, para evitar ausência de sentimentos que não consigo ter. É, eu sinto falto de sentir. Como uma velha cética e cansada, enquanto os outros irradiam luz por aí.
Sempre me doeu não saber agir com desprezo diante das coisas. Viver sempre foi algo insuficiente para mim.

Entre tantas e outras me inventei,
no excesso, na inexistência,
no insuportável, no convidativo,
no amoral.
Desgrenhada, descabida
uma dose desmedida de bebida verde
e minha fútil experiência espiritual.

De tão desinteressante que sou, me tornei uma raridade.
Mil vezes várias gentes num dia só.

Quem escreveu essa bobagem?
Você, disse o espelho.
Quem sou eu?
Você.
Quem é você?
Você.






Não sei viver se não for intensamente. A dor é invalida se não for total.
O grito é mudo se não for ensurdecedor.
Sorrir não é gratificante se não for um riso escancarado.
É preciso entrega, e para tal, conhecer-me.
Desvelar cada canto da minha alma.
Remexer nas velharias escondidas, relembrar todos os sabores que provei,
desejar o que ainda desconheço.

Depois de descoberto, consciente dos perigos e vantagens de ser quem sou
dos limites que me pertencem e de aceitar a invasão do mundo externo ao meu,
Estarei pronta para não me entregar totalmente.

Viver minha solidão com imensa sede, tem me bastado.
Porque solidão nada mais é que viver consigo mesmo
por isso tanta gente repudia ficar desacompanhado.
Encarar-se dói.
A mim, dói mais ver os outros.
Me acostumei com minha cara, minha forma, minha feiúra.
A dos outros, por vezes me fere.

Assumir-se é perigoso
Mas preciso disso, cada dia mais
Entregar-me a mim mesma, viver só, sentir como é ser quem sou
gostar de ser assim, mesmo que eu não saiba com exatidão que 'assim' é esse.
Saber, e depois ser.
Depois de ser? Não sei, talvez me espalhe por aí,
me divida com alguém, até ser completa, sou só minha.
Assim, sendo quem sou, não me perco, nunca mais!