quarta-feira, 25 de março de 2009

Nascimento

Queria saber o segredo por detrás daqueles óculos, descobrir a quem eram destinadas palavras tão difíceis. O que escondiam os olhos que me convidavam? O qu~e?
Ela tinha ares de quem conhecia tudo, sabia todos os segredos da vida. Por que escondias-os de mim? Por quê?
Eu me entregava a ela, mas ela, ela não se entregava a mim. Eu, eu que sou homem, tenho toda a força do homem, me vejo enfraquecido com o toque de uma mulher, uma mulher!
Ela acendeu um cigarro, tomou o último gole de whisky:
-Já vou.
-É cedo.
-Preciso.
Vestiu o sobretudo, calçou suas botas de couro, segurei aquelas mãos frias, uma criança que suplica amor, eu que sou homem e sou forte. Ali, nu, entregue, desarmado, implorando atenção.Me deu um beijo gelado, deu também as costas. Andou até a porta sem olhar-me, eu que sou homem, e sou forte, sequer olhou-me. Não seria mais indefeso. Peguei a arma no paletó jogado no chão, e de pé, nu ainda, aguardei com a mesma frieza que ela me tocara, que tocasse a maçaneta.
Ela tocou, e eu atirei.
Eu que sou homem não poderia deixar que um par de óculos que calavam toda a sabedoria me deixasse mendigando, me fizesse inferior. Eu que sou homem e sou forte.
Mário Abreu
(eu)

Um comentário:

Rafael disse...

Demais seu blog!! Parabéns